"
Uma noite atípica.

Decidiram por fazer algo pra escapar da cruel rotina. "Um café, uma cerveja, sei lá." — ou algo assim, foi o que ela lhe disse. Encontraram-se, caminharam, sentaram-se. Ela vestia-se toda de preto e ele, todo de azul. Ela pediu um capuccino e ele, um americano e um copo de água. Ela pagou com dinheiro e ele, com cartão. E ali puseram-se a conversar por algumas horas, três, quatro, cinco sobre os desvios de personalidade, as intimidades ironicamente retumbantes, as incoerências do destino, umas e outras simplicidades insolúveis.

Um alívio invadiu-o, alivio de ter-se posto aberto, de ter-se deixado folhear e ler e sentir-se bem com isso. Surpreendente sua reação, visto que sempre fora uma arca trancada, uma Caixa de Pandora.

Do lado de fora chovia, ainda, como o dia todo, como os dias todos. Levantaram-se e puseram-se a trilhar o caminho de volta. A chuva já não o incomodava como outrora, lavou-lhe, ao menos, a alma e as lentes do óculos.

[…]