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A saudade diminuiu ou fui eu que envelheci?

Ouvi dizer que o tempo é remédio infalível, elixir absoluto, capaz de cicatrizar a mais profunda das feridas. Porém, apesar de tecido saudável, restam escaras, testemunhas do passado, que não me permitem apagá-lo. O tempo, na realidade, não cura, mas ameniza; não faz esquecer, mas conforta. 

Um ano.

Sempre soube que um dia nos separaríamos. Sinto falta das conversas jogadas fora, dos sonhos adolescentes, das descobertas que juntos fizemos, das longas gargalhadas que compartilhamos. Quando vejo nossas fotos, quando sinto cheiros, é sua voz que escuto ecoar por entre nossas lembranças. Saudades até das lágrimas, da angústia, do momentos em que a vida se fez encruzilhada. Doces os pensamentos que um dia colocaram-me a acreditar que o gozo se alongaria pra sempre.

Um ano e meu coração ainda é ferida aberta, carne crua. E pensar que em quase vinte e dois, o máximo que passamos longe um do outro foram ridículos três meses. Três meses aqueles que balbuciavam pelo nosso reencontro.

Saudade é solidão acompanhada, é quando você já foi embora, mas o amor insistiu em permanecer. Saudade é amar um passado que ainda não desvaneceu-se, é recusar um presente que atordoa, que persiste em machucar, é não enxergar um futuro mais acolhedor, mais pacífico. Saudade é o inferno dos que partiram, traduzida em dor aos que aqui restam condenados. Saudade é estar na presença da sua ausência. Saudade é sentir que existe quem não existe mais…

Um ano e já me parece tão mais. Quando chegar minha vez de seguir, um dia desses, carregado junto da poeira do tempo no vento da madrugada, serei um pouco do nada, invisível e delicioso, mas esperançoso de te rever e de novamente poder te amar, porque tudo aquilo que é realmente nosso nunca se vai pra sempre.

A saudade, por mais excruciante e maligna, mora em mim. Branco no preto, é, contudo, perverso indício de que amei. E é por isso que eu tenho mais saudades. Porque encontrei uma palavra pra usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, nostálgico, até gostoso. Ela é prova inequívoca de que sou sensível, e de que amei muito aquela que um dia pude ter.

À vida, sou eternamente grato por você.

Espero que guarde estas palavras que chorando escrevo como um alívio à minha saudade, como um dever do meu amor; que quando em mim bater um lampejo de você, aqui estarei a lê-las e a chorar novamente.

Fica bem onde quer que esteja. Te amo muito, hoje e sempre.

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