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Notei que o presente me aborrece, que me atormenta. O presente é o verdadeiro disturbio das minhas dopamina, serotonina, noradrenalina e todas as outras. Ele me insere na geração da hiperatividade, do multitasking, do "esse semestre são nove matérias na faculdade, pesquisa, monografia e estágio, tudo em prol da carreira." Na academia a bater continência à malhação e ao culto ao corpo perfeito. Sem filtros e na obrigação de amar tudo o mais intensamente possível, de consumir chocolate, álcool, festas, sexo, indiscriminadamente, de absorver tudo muito rápido, tudo ao mesmo tempo. Eu deito minha cabeça no travesseiro e não consigo desligar, não sei mais onde fica o botão, não consigo descansar. Antes eu dormia nove, depois, entre oito e sete, agora seis é de praxe. Toca café, red bull, smart caps, tudo junto e misturado. Em semana de entrega, é uma bênção quando tenho três. E olhe lá.

Em suma, eu odeio esse imposto estilo de vida superprodutivo, a metralhadora de cobranças e espectativas, os cada vez mais minúsculos prazos, ter de caminhar no compasso alheio, etc. Mas a vida, como o rio que aflora no ápice da montanha, corre cada vez mais veloz e eu, já empunhado dos meus quase 23, como bom escravo do relógio, ponho-me a rearranjar, com muito desgosto, meus passos de tartaruga.