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E as duas últimas semanas me fugiram do controle. Emanciparam-se, decidiram-se por seguir sozinhas. E me carregaram entre extremos, do ápice da felicidade à catastrofe absoluta. A tristeza arrebatou-me a vontade de estar ali, por vezes quis fugir, sumir; tentei, mas já sem exito. Isolei-me entre os braços de alvenaria de Heerich, grossos e protetores, ensaiei minha liberdade, um brado, um grito por socorro e sufuquei-me no próprio choro. Ali padeci e ali chorei por longos minutos.

Era a saudade a triturar, mais uma vez, o que ainda resta de um coração dentro de mim. Que falta me fazem os amados, minhas mães, meus amigos, a família. Nove meses se passaram e eu ainda não consigo admitir que teu colo pra murmurar já não mais tenho. Num lapso de consciência, me fora trazido à memória o dia em que, olhando nos meus olhos, você disse já não saber quem eu era; não me reconheceria nunca mais. E novamente me senti nu, indefeso, perdido em pensamentos, engolido pela rejeição, pelo desprezo, pelo desamor. Fiz dos minutos cada vez mais longos, enquanto minhas lágrimas respingavam cá e lá.

Já não sei mais controlar o que sinto. E depois segue o vazio — vazio esse que sempre existiu, ainda que dormente, inconsciente, sem dor. Vazio. A única centelha de esperança que ainda vejo brilhar repousa no tempo, no grande dilema do tempo. Esquecer ou reviver? Entorpecer ou reavivar? Amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente / É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer.

Acho que já sei todas as respostas. Aguenta, coração.