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Braços dados, pernas que bambeavam e se entrecruzavam, embriaguez adolescente. Cambaleamos lá e cá até a parada do trem. Fazia frio e suas palavras a costurar casacos de lã para os dois. Lembro-me que estribuchava, ao entrarmos, sobre a discplicência de um
certo alguém, sobre a irresponsabilidade, a não-virilidade. E eu a concordar, já ancorando-me ao balaústre. Fizemos farra e até às fotografias posei, ainda que já postos os olhinhos pequenos, alcóolicos. Entre frase e outra, nossas palavras, já cansadas de coserem-se em coerência, recaiam sobre o celular em fugazes mensagens. Já achavamos graça de tudo, sentia-me a majestade daquela anedota que contávamos; a preocupação e as caraminholas jaziam então anestesiadas.
Emprumamo-nos e enfim seguimos redondilhos a caminhar noite afora. Nossos passos punham-se misteriosos, ritmados, embora ainda entrançados. Agora ríamos da sua não-vocação de casamenteira, de como sempre está buscando candidatos ao meu amor mor. Rodeados de tanta personalidade, retomado o fôlego da maratona, enfim chegaríamos à festa. Os rostos conhecidos já apeteciam os primeiros cumprimentos e os primeiros sorrisos esboçavam-se à mercê da efemeridade da embriaguez. Nossas bochechas amadureciam em maçãs, voluptas, lustrosas, vermelhas, a cada encontro.
Cheguei a pensar em retornar à realidade, porém minha mão foi mais rápida e, num blefe, da carteira fez-se dona. De dentro pode tirar uma nota de dinheiro e, hipnotizante, domou a boca a pedir por mais um drinque. Sincronizados, vi que também empunhava uma taça. E então percebi que de delícias também se vive por aqui, a rir e a confiar o amor tímido e carente às casualidades da sorte.
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