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Faz pouco mais de uma semana que cheguei, embora tempo e espaço já não se comuniquem mais dentro de mim. O frio e o ócio me permitem refletir sobre muitos dos meus conceitos pessoais acerca da realidade. Sempre pensei que do Brasil não sentiria falta, que seria capaz de viver longe e sem remorsos, mas não é tão simples assim, pois estarmos seaparados só me fez perceber o quão difícil é partir e deixar pra trás o próprio passado.

Viver em outro país sempre fora um fetiche, algo que idealizava nas minúscias. Ensaiei o estilo de vida que teria, da rotina acadêmica aos diálogos, e construí o espetáculo do intercâmbio em meus pensamentos. A grama do vizinho é sempre mais verde. Viver em outro país não é uma experiência tão fantasiosa e manipulável quanto pensei, tampouco ideal e perfeita. Os vinte e dois anos de Brasil cresceram raízes e amadureceram frutos, dos quais tive de abrir mão antes de partir. Estar sozinho nessa terra hostil, de língua e cultura tão distintas, só intensifica a chaga por ter sido arrancado de lá, por não mais inserir-me à minha zona de conforto.

Não digo, todavia, que esta experiência seja menos positiva ou que não me engrandecerá por ser difícil. Minha mãe não tarda em falar que preciso ser forte, que não devo desistir. Não vou desistir, prometi a mim mesmo que, amando-a ou mesmo odiando-a, chegaria ao seu fim.

E chegarei.