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Quem me conhece sabe que intercâmbio sempre foi uma das minhas metas de vida. E todas as pequenas peças, os mínimos detalhes, um a um, foram se encaixando para que eu pudesse completá-la. Me despedi de amigos e família e parti no escuro.
E entre conexões e fusos, depois de quase 24h de viagem ininterrupta, cheguei ao meu destino final — ao menos final por este ano. Bergen, um cidade na costa oeste da Noruega, edificada sobre as colinas e seus vales, à beira das águas geladas. As cores, como temperos, condicionam a paisagem nevada e lhe proporcionam charme e simpatia inigualáveis. De dentro do avião eu já pude perceber essa paixão, quase instantânea, adolescente e ainda bastante imatura, mas real.
De ônibus percorri as estreitas estradas estranhadas nas rochas e pude chegar ao centro.
“... uma mala verde-limão, vermelha e amarela e outra...” e foi então que meu confidente me avistou ali baratinado, em meio às pessoas e à neve. Fazia -2ºC e eu tremia de leve.
“Eu li sua mensagem, mas não tive crédito para respondê-la. No fundo, eu sabia que reconheceria essa tal mala…”
E foi o Bybanen que nos trouxe até Fantoft, minha fortaleza nórdica — até que se prove o contrário. De todas as maldições, creio que me rogaram a menos pior: um apartamento minúsculo, dividido com mais uma pessoa. Não que eu estivesse esperando luxo e mordomia, mas meu confidente me apresentou seu apartamento e, apesar de termos a mesma planta, seu espaço é mais novo, mais bem cuidado, com mais cara de lar. E se o quarto tem um tamanho excelente e uma janela incrivelmente grande, o que já deixa feliz pra começar, o banheiro, por outro lado, é algo que ainda não compreendi e ainda não sei se terei capacidade de tal.
Comprei duas garrafas de Bonaqua Sitron com notas de dinheiro do Banco Imobiliário, miúdas e coloridinhas, e moedas com furos no meio. Foi o fim do primeiro dia. Entre comida de avião, jetlag e muitos copos de café, espero conseguir relaxar essa noite e acordar mais animado que nunca, dentro do meu próprio sonho, conquistando o que sempre quis, vivendo e aproveitando essa chance, esse Gold Ticket.
E prometo que não vou fazer feio.