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Ao nascimento, todas as proposições consolidam-se, não existe escapatória. A vida é sentenciada e o prazo de validade põe-se a vigorar. Inicia-se, assim, a contagem regressiva da existência. Tudo está fadado ao fim, à
putrefação, ao pó — feliz ou infelizmente. E esse breve lapso de tempo faz-se
indecifrável. Os dias correm esbaforidos sem que se saiba o quão rápido a morte se aproxima.
A mera e breve passagem mundana deve ser demarcada com afinco pelas amizades verdadeiras e pelas pessoas que com você se importam. Como diria um amigo de longo prazo, "saber separar o joio do trigo". Saber escolher aqueles que merecem herdar o amor, o apreço, a consideração de um
relacionamento genuinamente honesto. Escolher as companhias a dedo,
selecionar. Não se deixar influenciar e bater o pé. Sacrificar-se na medida do
cabível, do adequado, sem exageros, sem cobranças, sem
xurumelas. Aceitar ao invés de tentar modificar, adaptar-se e não tentar remodelar.
Com o tempo, os atritos saudáveis fazem com que as arestas se desgastem e as peças se encaixem. As diferenças vêm para o bem e os problemas se resolvem. Aprovação. Laços de família, indeléveis,
inexpugnáveis. Como o mar, brilhante e fascinante, que hipnotiza e que pacifica.
As areias do destino, todavia, podem, ao invés de conformar, descortinar a verdade. Uma suposta amizade de pederneira, que gera faíscas e, assim, o fogo. Incendeiam-se as expectativas, a esperança, as boas lembranças. Ardem em chamas as semelhanças, os gestos, as palavras. Os últimos fragmentos de algo cegamente denominado eterno ardem em brasa e terminam em cinzas. Pulverizadas, largadas, como palavras ao vento, ditas a nenhum ouvinte, perdidas, desacreditadas, desiludidas.
Há males que vêm para o bem.