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Me vejo preso em meus próprios devaneios—bonitos e breves—na ânsia de que sejam capazes de ultrapassar a barreira entre o sonho e a realidade. O corpo estremece e um calafrio me percorre a espinha. Primeiro veio a inevitável cisão, então a ambiguidade do dilema e, assim, senti-me desprender do possível em direção ao que me parecia perfeito. Tudo faz sentido. Tudo faz sentido ao menos dentro da minha mente.

Tem vezes em que me sinto como quem brinca com o espelho, arremessando elogios e sentimentalismos contra ele, de forma que o proferido ao outro seja um autoelogio. Tem vezes em que penso estar nutrindo um monstro, capaz de destruir quando grande o suficiente. Tem vezes em que a sanidade dilacera meus planos, minhas visões, minha contemplação de agradabilidade e de bons tempos para o amor.

Viver de sonhos me consumia as graças—e quando cai em mim, de volta ao presente, percebi que o mundo é monocromático, desenxabido, bruto, inexorável. Nada mais me cativa e tudo parece repetir-se num prolongado e apático ciclo...